A primavera no Japão é marcada por um mar de flores que proporciona um dos mais bonitos espetáculos visuais da natureza.
Tudo começa no final de março quando cessam as chuvas, a temperatura fica agradável e as flores desabrocham nos jardins anunciando que é hora de sair de casa para se divertir e apreciar as paisagens.
Entre os meses de março e abril, o Japão transforma-se em um imenso tapete em tons de rosa, devido à floração das delicadas e efêmeras cerejeiras, conhecidas em japonês como sakura.
Como o Japão tem uma posição geográfica que dá origem a estações do ano bem definidas. Diferente do Brasil, cada estação tem suas características próprias.
As flores de cerejeira ou o “sakura”, como se é dito em japonês, marcam o fim do inverno no Japão e o começo da primavera. Florescem primeiro em regiões mais quentes, ao sul de Kyushu, no início de março e em abril começa a temporada em Tokyo, chegando a Hokkaido no mês de maio. Esse fenômeno dura cerca de dois meses e é chamado de Sakura Zansen, que significa literalmente “linha de frente das cerejeiras”. Como se fosse um efeito de uma onda, muitos apreciadores fazem roteiros turísticos acompanhando a tranformação da paisagem.
O ato de apreciar as flores, o chamado “HANAMI” em japonês, é uma das muitas tradições do Japão com respeito a natureza. Eles sabem valorizar muito a natureza e as estações do ano. Quando o mar de flores rosadas florescem no arquipélago, proporcionando um dos maiores espetáculos da natureza, os japoneses se reúnem em grupos e passam horas observando as belíssimas flores de cerejeiras, fazendo pique-niques e várias atrações. Como as flores duram cerca de duas semanas, a Agência Meteorológica Japonesa divulga em boletins televisivos o momento do florescimento de cada região.
Nessa época o Sakura tem um importante papel também na culinária japonesa. Doces, sorvetes, bebidas e várias guloseimas ganham o toque das flores tanto no formato quanto no sabor. O “sakura-mochi”, bolinho de arroz enrolado na folha de cerejeira é um dos pratos mais tradicionais.
Como prova de amizade, no inicio do século vinte, os japoneses passaram a distribuir mudas para diversos países.
Símbolo do amor e da fraternidade a missão desta bonita flor é ser bonita, transmitir paz, harmonia e serenidade.
Além do sakurá, a primavera japonesa ganha várias tonalidades de cores como o amarelo,. vermelho, azul e a violeta das glícinias...
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Primavera
Cecília Meireles
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.